Depois dos problemas da etapa de sábado, quando não conseguiram completar, a dupla formada pelo penta-campeão do Rally dos Sertões, Carlo Collet e Marcos Gouvêa vem buscando descontar a diferença e foram os mais rápidos das quarta, quinta e sexta etapas deste 21º Rally dos Sertões.

Foram 900 quilômetros de etapa maratona nos dois últimos dias. Um grande teste de resistência para os carros, pilotos e navegadores, que não puderam contar com o trabalho de manutenção em seus carros e motos. Somente hoje foram percorridos 354.64km quilômetros entre Natividade e Palmas, recheados com muita pedra e curvas apertadas.

Enquanto a maioria dos competidores da categoria UTV tinham praticamente como um mantra o discurso de poupar equipamento, para se evitar surpresas com a impossibilidade de troca de pneus e manutenção, Collet e Gouvêa andavam de pé embaixo, lutando pela vitória nas especiais e, também, reduzirem a grande diferença de tempo que os separa dos lideres da categoria depois dos problemas do sábado, que não lhes permitiu completar a etapa dentro do tempo máximo estipulado e os retirou – ao menos por enquanto – da briga direta pela vitória desta 21ª edição do Rally dos Sertões.

“A Can-Am nos entregou um UTV fantástico e conseguimos ser os mais rapidos no domingo, na segunda e hoje, novamente. Esta noite será feita uma revisão completa, para amanhã enfrentarmos o ‘laço’ de 746 quilômetros pelo Jalapão, partindo e voltando de e para Palmas, com uma especial de 514 quilômetros. É a maratona mais temida pelos competidores”, esclareceu Carlo Collet.

Vivendo um poema na pratica

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra

(Carlos Drummond de Andrade,
julho de 1928 in "Revista da Antropofagia")

Mais que um belo poema de Carlos Drummond de Andrade, uma pedra no meio do caminho entrou na corrida de Carlos Collet e Marcos Gouvêa, durante a terceira etapa realizada no sábado, entre Pirenópolis e Uruaçu. Escondidinha em meio a um mato baixo, o UTV #151 bateu em cheio na pedra Drummondiana, quebrando a bandeja de suspensão.

Mesmo perdendo muito tempo, Collet e Gouvêa conseguiram fazer um conserto “básico” e prosseguiram em frente. Mas a peça danificada acabou não agüentando o pé pesado de Collet e quebrou repentinamente, fazendo o UTV capotar. Para os “tripulantes”, que nada sofreram, não passou de um bom susto, mas o carro não tinha mais condições de continuar na disputa.

Ao invés de prantear os problemas e o conseqüente abandono da etapa, Marcos Gouvêa esbanjou seu talento em mecânica, bem como de sua genial inventividade. Adentrou à mata e retornou com um pedaço do tronco de uma árvore para, com ele, criar um “esqui” no lugar da suspensão quebrada. Assim, mesmo que lentamente, conseguiram chegar, para serem feitos os reparos necessários e deixar o #151 em condições de vencer as três etapas seguintes.

A garra e valentia de Gouvêa acabou transmutando o poema de Drummond de Andrade em outro de Gonçalves Dias, o épico I-Juca Pirama.

Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.

Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.

Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.

Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimoréis;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.

E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.

O Dia D

Amanhã (quarta-feira 31/07) será o dia mais temido pelos competidores, afinal serão 750 quilômetros em meio ao Jalapão, com 500 quilômetros de especial. “São 750 quilômetros de muita areia, pedras, rios e com mais de 40 graus de temperatura. Nosso carro está perfeito, mas temos que ser um pouco mais cautelosos, pois será praticamente o ’Dia D’ do Sertões e quem ‘sobreviver’ e ganhar a etapa, provavelmente levará o troféu de campeão”, detalhou Collet.

“Já que estamos muito atrasados – embora ainda com expectativas -, vamos encontrando outros motivos para tornar o Sertões mais divertido. E encontramos a ‘diversão’ em largar na frente do Peterhansel e tentando não sermos alcançados por ele. Ontem (quinta etapa) só nos alcançou quando faltavam menos de 40 minutos para terminar com aquele verdadeiro foguete”, segredou, entre risos, Carlo Collet.

Alea jacta est

Confira o resultado dos UTV nesta sexta perna do Sertões:

1.- #151 Carlo Collet/Marcos Gouvêa (Bike Box/ Can Am/ BSS), 04:36:25
2.- #150 Bruno Sperancini /Lourival Roldan, 04:44:31
3.- #156 Rodrigo Varela/Joao Arena, 04:48:09
4.- #152 Carlos Ambrosio/Dionizio Silva Neto, 05:01:04
5.- #155 Marcos Regadas Filho/Andrews Costa, 05:32:32
6.- #154 Fabio Campos/Adeilton Santos, 06:00:00

Confira com está a categoria UTV no Rally dos Sertões:

1.- #150 Bruno Sperancini /Lourival Roldan, 19:26:26
2.- #156 Rodrigo Varela/Joao Arena, 20:24:13 (a 00:57:46.8)
3.- #151 Carlo Collet/Marcos Gouvêa (Bike Box/ Can Am/ BSS), 29:38:15 (a 10:11:49.1) - 09:14:02.3 do anterior
4.- #152 Carlos Ambrosio/Dionizio Silva Neto, 31:50:57 (a 12:24:31.5) 02:12:42.4 do anterior
5.- #155 Marcos Regadas Filho/Andrews Costa, 47:43:33 (a 1d 04:17:0) - 15:52:35.1 do anterior
6.- #154 Fabio Campos/Adeilton Santos, 61:33:02 (a 1d 18:06:3) - 13:49:28.1 do anterior