Você está Aqui: Início

Entrevista - Helio Castroneves é pole também no PlanetCar!

E-mail Imprimir PDF

( 10 Votos )

Pouco ante de iniciar os treinos para a 93th Indianapolis 500 Mile Race, a mais famosa e importante prova do cenário automobilístico mundial e que em 2011 completa cem anos de existência – a primeira prova foi em 1911 -, o brasileiro Helio Castroneves concedeu uma entrevista exclusiva ao PlanetCar, contando um pouco de sua trajetória, fazendo uma balanço das primeiras etapas da temporada, quais as pretensões de futuro e, ainda, apontando o caminho para quem quer chegar lá.

Antes que alguém fique em duvida por se estar comemorando o centenário da 500 Milhas e ser esta a 93ª edição, a prova não aconteceu em seis oportunidades nestas dez décadas. As edições de 1917 e 1918 não foram realizadas em razão da Primeira Guerra Mundial, tendo as instalações serviram como área de reparos da aviação militar e deposito de reabastecimento, bem como no período da Segunda Guerra, nos anos de 1942, 43, 44 e 45, em razão de uma proibição, pelo governo, da realização de corridas no país.

O Indianapolis Motor Speedway foi inaugurado em 1909, com a pista ainda sem pavimentação (a pista era recoberta de taroid, uma massa formada por alcatrão e petróleo), mas em razão de graves acidentes com resultados fatais, os proprietários resolveram pavimentar o circuito e fazer os muros de concreto ao redor, para proteger o publico. Pavimentação era uma idéia relativamente nova e nos EUA apenas alguns poucos quilômetros de vias publicas pavimentadas e a solução encontrada foi fazer o piso com tijolos, colocados manualmente sobre almofadas de areia e com os espaços preenchidos por argamassa. Nada menos que 3,2 milhões de tijolos foram utilizados para tanto e o último tijolo adicionado à pista foi feita de ouro e colocado em uma cerimônia especial pelo Governador Thomas R. Marshall. Hoje, 3 pés (0,91 m), ou uma jarda (yard em inglês), de tijolos originais ainda permanecem na linha de largada/ chegada, dando a pista o nome com o qual é conhecida: "The Brickyard" (Quintal de Tijolos).

Toda essa tradição é cultuada à exaustão pelo povo norte-americano, que por formação também cultua seus ídolos do esporte – está aí um habito que devíamos, obrigatoriamente, aprender a cultivar -, entre eles o trio de recordistas em vitórias na 500 Milhas de Indianápolis, que conseguiram vencer quatro vezes a prova. São eles A.J. Foyt (1961, 1964, 1967, 1977); Al Unser (1970, 1971, 1978, 1987) e Rick Mears (1979, 1984, 1988, 1991).

Certamente entre os heróis da atualidade está o brasileiro Helio Castroneves, que já cruzou três vezes na dianteira a “Brick Yard” – faixa de tijolos – e nesta edição tem possibilidade de se igualar a Foyt, Unser Sr e Mears, no topo da lista de maiores vencedores da corrida mais famosa do planeta.

Helio Castroneves é um grande campeão reconhecido e cultuado. Um piloto de rara qualidade e vencedor nato, que tem engrandecido a bandeira auriverde na mídia internacional. Filho exemplar, marido amoroso, pai apaixonado e dono de uma caráter irretorquível, tinha de ser Helinho o “pole position” das entrevistas do PlanetCar.

“Gentlemen, start your engines!”

 

Confira a Entrevista Exclusiva de Helio Castroneves para o PlanetCar:


PlanetCar – Helinho, gostaríamos de iniciar essa entrevista agradecendo a sua gentileza em conceder a primeira entrevista exclusiva para o PlaneCar.

Helio Castroneves – A alegria é minha, Claudio Reis, pois sei do grande trabalho feito por você e sua equipe, ao longo dos anos, com o PlanetKart e tenho certeza que o mesmo sucesso, ou maior ainda, será alcançado com esse novo espaço. Eu que agradeço pela homenagem.

PlanetCar – Às vésperas de sua 11ª participação na Indy 500, que balanço você faz das quatro primeiras corridas do campeonato de 2011?

Helio Castroneves – Cara, foi decepcionante até aqui. Desde que cheguei na Penske, nunca tive um início de campeonato tão cheio de problemas. Juntando os meus próprios erros com os erros dos outros, que me atrapalharam, nada deu certo. É uma fase e, para enfrentar um período de “nuvens negras”, como diz o meu estrategista Tim Cindric, é preciso manter o foco, não se desesperar, ter fé e continuar trabalhando forte, com dedicação. Uma hora essa fase terminará e quero crer – e trabalho muito para isso – que aconteça em Indianápolis.

PlanetCar – Mas o que aconteceu de tão errado nesse início de campeonato?

Helio Castroneves – Olha, Claudio, foi uma série de coisas. Não é uma desculpa, até porque foi igual para todo mundo, mas os pneus Firestone nessa temporada são um pouco mais duros e por algum motivo não conseguimos chegar ao acerto ideal com os novos pneus tão rapidamente quanto outros carros. Há também a possibilidade de, nos mistos, pelo fato de eu frear com o pé direito, perder alguma coisa. É algo que estou analisando, também. A gente tem de estar sempre aberto a analisar as evoluções e melhorar, mas não creio que seja por aí.

PlanetCar – Não teve uma única prova, dentre as quatro primeiras, sem problemas, não é mesmo?

Helio Castroneves –
Verdade, Na largada da primeira corrida, em St. Pete, eu não consegui frear e bati logo no início. Em Barber meu carro estava inguiável e escapei algumas vezes por causa dessa instabilidade, ora saindo de traseira, ora saindo de frente ... Em Long Beach eu já achei um acerto melhor e estava bem tranquilo na corrida, certo que iria chegar entre os cinco primeiro. Talvez até fosse possível tentar um pódio. Mas aí houve aquele erro incrível e imperdoável de minha parte, que foi não conseguir evitar a batida no meu companheiro de equipe, o Will Power. Fiquei muito desapontado comigo mesmo mas, fazer o que, né? Pedi muitas desculpas para a equipe, para ele e para os fãs, mas não me conformo até hoje com aquilo. Aí veio São Paulo e levei aquela batida do Dario Franchitti logo na largada. Êta fase!

PlanetCar – Por falar em Long Beach, qual foi a reação da equipe depois do acidente? Levou uma bronca do Roger Penske?

Helio Castroneves – A equipe me deu todo o apoio e aceitou minhas desculpas. Claro que o Will ficou bravo, não era para menos, mas ele próprio entendeu que foi um acidente de corrida e viramos a página. O Roger Penske, que é uma pessoa maravilhosa, me deu a maior força, disse que acidentes acontecem e me deixou bem a vontade. Essa compressão toda me ajudou a superar um pouco tudo aquilo.

PlanetCar – Já que você falou em Roger Penske, vou antecipar uma pergunta que estava prevista para mais à frente. Como é trabalhar com ele?

Helio Castroneves – O Roger é uma das pessoas mais incríveis que conheço. Eu me identifiquei de imediato com ele, pois se parece muito com meu pai em alguns aspectos. É focado, dedicado, dá o exemplo de eficiência antes de cobrar as pessoas, é exigente, mas ao mesmo tempo apoia, motiva e dá a maior força. Tenho aprendido muito com ele no sentido de fazer negócios, entender que o universos das corridas não se resume ao traçado da pista, planejar as ações, ser paciente na busca dos resultados e tantas outras coisas. Nos momentos de dificuldades, ele é o primeiro a te procurar para dar apoio e dá todas as condições para seus comandados realizarem o trabalho. Realmente, estar com ele tanto tempo – entrei na equipe em 2000 e nunca mais saí – é uma coisa muito boa, uma dádiva em minha carreira, uma coisa muito valiosa para mim.

PlanetCar – Você andou com o carro preto e branco em St Pete, passou para azul e branco em Barber e em Long Beach, chegou ao Brasil com um carro vermelho e branco e agora, na Indy 500, terá as cores vermelha e amarela. Que troca-troca é esse de cores?

Helio Castroneves –
(Risos) Tem gente que ainda não se acostumou. O motivo de tudo isso é a ampliação das parcerias comerciais que o Team Penske promoveu para esta temporada. Como você se lembra, por mais de 20 anos a Penske foi patrocinada na Indy pela Philip Morris. Então, sempre corri com o carro vermelho e branco, as cores da marca Marlboro. Só que em função das restrições impostas pelo governo dos Estados Unidos à propaganda de cigarros, o ano passado foi o último desta parceria. Já não tivemos em 2010 os carros com as cores dos anos anteriores, mas ainda havia alguma relação. Tanto que no final do ano passado houve uma grande festa de despedida na sede da Philip Morris, que foi um momento muito especial para todos nós da Penske. Para esse ano, a Penske fechou diversas parcerias, o que demonstra como a equipe é forte também no marketing. Aliás, até patrocinadores brasileiros passaram a fazer parte da família Penske.

PlanetCar – E como ficou a mudança das cores?

Helio Castroneves -
Em St. Pete em corri com as cores da GuidePoint, que é um empresa de rastreamento e localização de veículos, que estará comigo em outras provas também. O carro azul e branco é por causa da AAA, empresa de seguros e serviços automotivos que tem grande presença na Penske Racing, na Indy e na Nascar. No Brasil tive a honra de correr com as cores da Itaipava e TNT, marcas do Grupo Petrópolis. Foi a primeira vez que a Penske contou com um patrocinador majoritário brasileiro e pretendemos repetir essa parceria nos próximos anos no Brasil. Agora, em Indy, vou com as cores da Shell e Pennzoil. E vem mais por aí (risos)!

PlanetCar – O que você escolheria se precisasse optar entre vencer a quarta Indy 500 ou ser campeão da Indy agora em 2011?

Helio Castroneves – Caraca, que pergunta! Assim você vai me derrubar (risos)! Falando sério, tenho como uma meta muito firme na minha carreira ser campeão da Indy. É uma categoria fantástica, tenho trabalhado muito para isso e é algo que quero ainda conquistar antes de pendurar as luvas. Mas como você me colocou contra a parede, vamos lá. Eu escolheria vencer a Indy 500 pela quarta vez em 2011, se tivesse de escolher entra uma conquista e outra.

PlanetCar – O que representa a Indy 500 para você?

Helio Castroneves - Tenho tentado explicar o que é vencer em Indianapolis, mas não tenho o dom da palavra para isso. É algo tão especial, tão importante, tão motivador, que é uma emoção única. E eu tive a felicidade de vencer por três vezes! Dá para imaginar isso? Então, como os recordes estão aí para serem batidos, quero mais e vencer pela quarta vez seria uma maneira fantástica de dar a volta por cima, depois dos problemas que tive no início do campeonato. Vou com tudo para cima dos caras!

PlanetCar – Pendudar as luvas? Já pensou quando será isso?


Helio Castroneves –
Olha, vai chegar uma hora em que terei de pensar nisso. É da vida e acontece com todos os esportistas. Mas, sinceramente, não é coisa para agora. Acabei de completar 36 anos, estou no melhor da minha forma e não penso em parar tão cedo. Acho que ainda tenho alguns bons anos aqui na Indy e, depois, com as opções oferecidas pelo automobilismo norte-americano, acho que tenho condições de continuar correndo mesmo depois de deixar a Indy. Mas isso é com o tempo. Tenho muita lenha para queimar ainda.

PlanetCar – Sempre o seu nome aparece vinculado a Nascar. Tem alguma verdade nisso, gostaria de tentar a Nascar?


Helio Castroneves –
Eu não descarto nenhuma possibilidade. Meu foco é continuar na Indy e na equipe Penske. Mas a Nascar é uma grande categoria, extremamente popular e valorizada aqui nos Estados Unidos, e adoraria ter uma experiência nesse tipo de carro também. Claro que, para isso, vai depender das oportunidades, da disponibilidade, da preparação que tiver de fazer etc. Mas, respondendo objetivamente, sim, gostaria de andar na Nascar no futuro e já tive até algumas sondagens a respeito, mas meu foco é a Indy.

PlanetCar – E o seu contrato aqui na Penske, como anda?

Helio Castroneves – Meu atual contrato termina no final de 2011, mas já estamos conversando e acredito que as chances de ficar são grandes. Estou otimista quanto a isso e, realmente, essa é meu objetivo.

PlanetCar – Se no campo profissional você é um piloto de sucesso, está radiante também com a família, não é mesmo?

Helio Castroneves – Verdade, nesses dias em que as coisas não saíram muito bem e a gente fica um pouco para baixo, nada com chegar em cada e encontrar a mulher amada e o sorriso da minha filhinha Mikaella, que tem um ano e cinco meses (enquanto fala, Helinho mostra fotos da filha no celular) para você ver as coisas de um outro prisma. O nascimento da minha filha foi uma bênção e curto cada momento ao lado dela. Quando estou viajando, todo dia a Adriana, que é colombiana, envia fotos e videos de nossa filha. E pelo computador, mesmo distante, falo todo dia com as duas, olho no olho. Eu venho de uma família muito unida, que me deu todo o suporte e me fez ver o valor que uma família bem estruturada tem na formação da gente. Então, estou vivendo esse momento com muita alegria e já me vendo tendo algumas preocupações que, antes, via meus pais tendo comigo e com a minha irmã. Mas faz parte e é muito bom.



PlanetCar – Antes de encerrar, gostaria de voltar ao seu tempo do kart. Que conselho você daria ao kartista que está começando agora e sonha em ser o Homem Aranha do futuro?

Helio Castroneves – Eu tive a sorte de participar de um kartismo muito competitivo e meu pai me deu todas as condições, não importasse os sacrifícios que fazia, para eu ter condições de correr e treinar bastante. Claro que a realidade é outra e há sempre o problema dos custos. Mas acho que a fórmula não muda muito. O menino ou a menina, primeiro, tem de gostar do esporte e estar disposto a enfrentar os sacrifícios e desafios. Não adianta nada o pai gostar. Se o piloto não estiver a fim, mais cedo ou mais tarde ele vai mudar para outra coisa. Então, o primeiro passo é permitir que a natureza da criança fale. Claro quer o suporte é necessário e fundamental, mas o pai não pode tomar certas decisões pelo filho. Uma delas é sobre ele querer ou não correr. Resolvido isso, tem de competir e treinar bastante. Não tem mistério. Ou você treina muito e melhora a cada dia, ou ficará sempre um passo atrás. Há várias questões que dificultam isso, mas o piloto precisa ter em mente que treinar, se dedicar e estar inteiramente comprometido com o esporte são atitudes fundamentais. É isso aí.


*Nota da Redação: - O PlanetCar agradece o inestimável concurso do Jornalista Americo Teixeira Junior - Assessor de Imprensa de Helio Castroneves e Editor do web-site Diário Motorsport, para a realização desta entrevista.


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Última atualização ( Sex, 20 de Maio de 2011 05:28 )  

Comentários 

 
#1 05/06/2011 21:17
Grande Cláudio,

Muito obrigado pelo espaço, pelas palavras e muito sucesso no PlanetCar!

Tudo de bom!
Citação
 

Adicionar comentário

Todos os Comentários enviados estão sujeitos a aprovação pelos administradores do site Planet Car para a sua publicação.
O Planet Car reserva-se ao direito de modificar ou excluir quaisquer trechos que eventualmente possam ferir a ética e os bons costumes , assim como denegrir a imagem de terceiros.
Os comentários publicados não necessariamente refletem os ideais do Planet Car , e são de responsabilidade única e exclusiva de seus autores.
Para ter seu AVATAR exibido , inscreva-se no serviço www.gravatar.com (é gratuito)


Código de segurança
Atualizar